O aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico na costa da América do Sul desencadeou o surgimento do fenômeno “El Niño Costeiro”, o que potencializou as chuvas nos últimos 90 dias entre a Colômbia, Equador e Peru.
Desde 1998, final de atuação do “Super El Niño”, o mais intenso já registrado no planeta desde que o monitoramento teve início, em 1950, o Peru, em específico, não registrava uma sequência de catástrofes naturais por conta das chuvas.
Devido ao relevo do país, a precipitação volumosa que caiu nos topos mais elevados de montanhas andinas formou gigantescas e perigosas cabeças d’água (fenômeno que dá origem a uma enxurrada de forma vertiginosa sempre após chuva forte em cabeceiras de rios ou em montanhas) e que destruíram cidades inteiras.
Autoridades do país informaram que já passa de 50 o número de mortos e mais de 200 mil o de afetados, dentre desalojados e desabrigados. Cerca de 711 municípios registraram estragos e 12 mil casas foram destruídas. Aulas foram suspensas em todas as escolas em municípios afetados, principalmente pelas cabeças d’água.
A região mais castigada, até o momento, é a do departamento de Piura, onde cabeças d’água arrastaram casas inteiras e veículos, alagamentos tomaram conta de cidades, inclusive da capital homônima. Lambayeque é outro departamento bastante impactado pelas chuvas, com mais de 1.500 hectares de plantações perdidos.
Nas últimas 24 horas, violentas cabeças d’água atingiram municípios da Região Metropolitana de Lima, também causando muitos estragos, mortes e deixando um rastro de destruição.
Grande foi a quantidade de árvores arrastadas, além de veículos e muitos animais. Uma mulher que foi sugada pela cabeça d’água sobreviveu no município de Punta Hermosa, na Grande Lima.
Os Jogos Pan-Americanos de 2019 podem não acontecer no país, uma vez que autoridades locais informaram nesta quinta-feira (16) que os recursos para a construção da Vila Olímpica serão aplicados para a reconstrução das cidades destruídas. O mesmo não ocorreu no Brasil para sanar o problema de milhões de habitantes que passam necessidade com a estiagem no Nordeste ou vítimas as chuvas e deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro.
Dados meteorológicos
Meteorologistas do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru (Senamhi) informaram que a chuva registrada nos últimos 90 dias no país é a maior desde o “Super El Niño”, de maior impacto, entre os anos de 1997-1998. A precipitação na área costeira do país está até 300% acima da média climatológica.
Modelos numéricos indicam o possível surgimento e rápido fortalecimento do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico Tropical a partir do mês de julho, conforme projeções indicadas por oito modelos numéricos e divulgadas pelo Bureau of Meteorology (BOM), órgão oficial de meteorologia da Austrália. Tecnicamente, são necessários três meses consecutivos com anomalia de temperatura superior a +0,8°C para a configuração do fenômeno.
Os especialistas acreditam que o atual “El Niño Costeiro”, cuja anomalia de temperatura do oceano está em até +2,5°C na costa da América do Sul, pode evidenciar situações futuras ao largo do mesmo até a costa da Indonésia e Papua-Nova Guiné, onde a temperatura superficial no Mar de Salomão começou a dar indícios de aquecimento na última semana.
Com El Niño ativo há uma mudança no padrão de circulação do vento, bem como da cobertura de nuvens próximo à Linha do Equador, o que modifica a distribuição das chuvas e temperaturas ao redor de todo o planeta.
Para o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), ainda é cedo para diagnosticar um possível El Niño no Pacífico em 2017, embora quase a metade das simulações numéricas apontam para o fenômeno.
O órgão ainda ressaltou que durante o mês de fevereiro, a anomalia de temperatura na costa da América do Sul foi superior ao período de El Niño entre 2015-2016, um dos motivos para o aumento da taxa abusiva de chuva, principalmente no Peru. A média da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na costa do Peru é de 25°C, mas o observado nos últimos 60 dias foi de até 29°C.
O modelo CFS indica regiões com anomalias importantes de precipitação até o mês de dezembro, com cenário bem parecido com El Niño configurado.
De início, as chuvas continuariam acima da média na faixa oeste da Colômbia, Equador e Peru e em parte do centro-sul do Brasil. Ao mesmo passo que o sul do Chile teria chuvas abaixo do normal, bem como o Nordeste brasileiro.
A partir de agosto, as maiores frações anômalas positivas de precipitação na América do Sul se concentrariam entre o centro e norte do Chile, entre o nordeste da Argentina, sul da Bolívia e Paraguai, além do Sul do Brasil e partes de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Neste mesmo cenário, a anomalia negativa aumentaria entre a Amazônia, Caatinga e Cerrado até dezembro, o que traria em um aumento explosivo das queimadas.
No Brasil, as principais características de um Niño são o aumento da taxa de chuva e tempestades no Sul e parte do Sudeste, além do agravamento da estiagem entre a Amazônia e o Nordeste e a anomalia positiva de temperatura em boa parte do país. Modelos indicam, inclusive, um outono e inverno mais chuvoso em parte da Região Sul.
(Crédito das imagens: Reprodução/Google – Reprodução/Bureau of Meteorology/NOAA/Tropical TidBits – Reprodução/Diário Gestión/El Diário - Rodrigo Araya – Jesús Verde/Capital.com)
(Fonte da informação: De Olho No Tempo Meteorologia)